quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A existência enquanto inevitável luto

São muitas coisas, e eu não sei por onde começar. Onde irá terminar não é um problema. Antes, preocupa-me o início. Simplesmente não sei por onde começar. O mundo é tão vasto, e a realidade tão infinitamente multifacetada. Sinto desânimo ante essas considerações, as quais em meu universo interior se traduzem em sensações. Portanto, fico com as sensações, afinal, são elas imediatas e prementes. Sinto-me fraco ante a impossibilidade de me fazer claro, pois meu objetivo é convencê-lo, seja lá quem você for. Entusiasma-me a curiosidade alheia, e acabrunha-me a inteligência alheia. Em momentos de melhor organização interna percebo o silêncio satisfatório para a continuidade de minha existência; para uma melhor convivência no dia-a-dia. Todavia, o silêncio de que falo não me basta, ele me incomoda, e a necessidade de me comunicar aparece. Penso em meu Blog, e determino-me a produzir um texto de qualidade, mas parte minha diz ser isso menor... Enfim, sou o aluno que levanta o braço para fazer a pergunta, mas logo o abaixa com medo da reação dos presentes em sala. Há tantas pessoas inteligentes, e elas falam sobre tantas coisas, lembram-se de tantas coisas... A repercussão dessa imagem em meu interior provoca o silêncio. Ei-lo novamente! Um lugar antes agradável já não mais o é, e triste é conceber o pensamento de que seja natural esse lugar já não mais ser agradável, pois existe o amadurecimento. Perpassam a caminhada incessantes lutos. Um inevitável luto chamado existência.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Fértil

Sinto-me incapaz de refletir sobre os outros. Há um abismo entre minha realidade e outras realidades habitantes do mundo. Imagino algo gigantesco (seria o universo?), e lá estão todas as sensações, odores, pensamentos, sabores etc. O terreno sobre o qual se assentam as diversidades é infinito, e de suas entranhas nasce o fértil emaranhado vital, mas nada disso importa, pois estou só...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

As escadarias

Meus pés sobem degraus. Estes talhados em madeira, e desprovidos do revestimento em verniz, apresentam uma coloração semelhante ao marrom dos minúsculos tijolinhos das paredes. Estas simetricamente opostas proporcionam, pois próximas umas das outras, um pequeno espaço, o qual acomoda a estreita escadaria em profundidade e altura infinitas. Abaixo de mim apreende-se a obscura imagem dos milhares de degraus perfilados à superfície da estrutura. Esta caminha rumo ao desconhecido. Ao meu lado aparece uma mulher; há um bebê em seu colo. Possui ela cabelos negros, pele morena e usa um vestido preto repleto de bolinhas brancas. Pergunta pela idade da estrutura por nós habitada. Imagino os séculos XIV e XV - época das expansões marítimas. Aparece a imagem de um soldado português. Este solta as amarras de uma nau para o início da viagem. A mulher desaparece, e eu continuo minha viagem.

sábado, 29 de maio de 2010

O cinema e a arte

Há pouco, li a notícia de que o ator intérprete de Peter Parker na saga Spider-Man será substituído, pois Marc Webb (atual diretor, substituto de Sam Raimi) procura ator jovem para reiniciar a estória. Após a leitura da notícia, percebi o quão comum é, na atualidade, o refazimento de produções cinematográficas. Com efeito, o filme “Hulk” (2003) de Ang Lee foi rechaçado por “The Incredible Hulk” (2008) de Louis Leterrier. Além disso, há a tendência ao refazimento de clássicos do terror como, a título de ilustração, “A Nightmare on Elm Street”. Inclusive, Wes Craven, o criador da sádica e monstruosa figura de Freddy Krueger discordou da refilmagem de sua obra. Todavia, gostaria de ressaltar o quanto os acontecimentos mencionados estão distantes do bom e velho cinema-arte. Não sei precisar o que seja arte, ou onde ela se encontra em sua forma mais pura, mas sei das más impressões que se levantam ao deparar com o atual cenário das produções cinematográficas. Ora, pertence à arte e, conseqüentemente, ao cinema, uma particular capacidade de comunicação, a qual amplia nosso contato com nós mesmos. Entretanto, os filmes hoje lançados se distanciam das peculiaridades da arte ao apresentarem elementaridades insossas, inconsistentes etc.

terça-feira, 25 de maio de 2010

(im)Potência

Falamos daquilo que não se pode falar, porque não se pode dimensionar. Em busca pelo todo, por aquilo que une tudo o que há, pedimos e exigimos demais de nós mesmos. Ora, não há capacidade para se assemelhar ao todo (eis o limite intransponível!). Perante o todo somos efêmeros perguntadores de eternas perguntas sem respostas (há indícios, mas nada é suficientemente seguro). Enfim, resta-nos o inconsistente, pois simplesmente não conseguimos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Imersão

Assemelhar-se ao humano é encontrar na dificuldade o prenúncio do aprimoramento.

domingo, 18 de abril de 2010

Texto de Bertrand Russell

“A filosofia deve ser estudada não com o objetivo de se chegar a alguma resposta definitiva às suas questões, já que nenhuma resposta definitiva pode, como regra, ser reconhecida como verdadeira. Ela deve ser estudada em virtude das próprias questões, pois essas questões ampliam nossa concepção do que seja possível, enriquecem nossa imaginação intelectual e diminuem as certezas dogmáticas que fecham nossa mente à especulação. Mas sobretudo ela deve ser estudada porque, graças à grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente também é engrandecida e se torna capaz daquela união com o universo que constitui o mais alto dos bens.”

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Iluminação

Aproxime-se da dor, pois é o que lhe resta. Ir levando e de vez em quando deparar com dificuldades é estúpido - assim faz o verme. Se for homem, levante a cabeça, feche os olhos e vislumbre o desagradável de sua natureza. Com efeito, nada mais faz do que assemelhar-se àquilo que sempre foi.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Aprendiz

Acabo de ler textos de uma pessoa maravilhosa, e ela me inspira a escrever. Descubro coisas dentro de mim, sinto aprimoramento, mas nada vem gratuitamente. Sou tomado por angústia, dor e sofrimento. Essas palavras aparecem sempre, e evidenciam minha proximidade de sensações negativas. Todavia, o momento é leve, e angústia, dor e sofrimento não passam de palavras (pelo menos, por enquanto). Entro em contato com a música, essa música que me soa leve e passageira. Linda é essa música. Descubro um vazio, não daqueles que obscurecem a mente e a alma, mas um que urge por preenchimento. Já está mais do que na hora de preencher o meu interior... com coisas boas... leves e passageiras... como a música. Esta me toma, e a ela me entrego - é irresistível. Acredito que pureza e ingenuidade sejam palavras adequadas para traduzir meus sentimentos em relação à música. É um som desprovido de excessos. Percebo imediata a associação entre realidade e crueza. O mundo e as coisas que nele acontecem soam roxas, aveludadas e cheiram a perfume barato. A música é anterior, e faz que acreditemos em contos de fadas, ou na mera possibilidade de sossego. Ela percorre espaços de meu interior nunca dantes navegados (o arauto português fala das descobertas de seu povo, mas ele mesmo não fazia idéia do quanto descobria de si próprio). Somente a arte para produzir dessas, afinal, de sensações e efeitos vivemos. Intelectualizo e sinto, as duas coisas caminham juntas. Não sei para onde vou. Momentos há em que me sinto um ás da sensibilidade, noutros estou nerd zuado etc. Assim caminha o Raphael. Mas veja só: aprendiz Raphael. As coisas são intangíveis. A superfície do mundo aparece nas relações. O efêmero se esvai ao mero toque. Como poderiam os homens sentir segurança em meio à eterna e inevitável busca? Não passo de um mero aprendiz, e acredito que devamos nos sentir enquanto tal, além de procurar situações que escancarem esse tipo de constatação. Sei que rodeio e não ataco pontos específicos, mas não o faço desprovido de consciência. Aquele tipo de consciência que traz a sensação de que nada mais nos resta. Com efeito, nada mais nos resta, a não ser permanecer atônitos e admirados ante o intangível. Saudade.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ermo

Existe uma sensação desagradável. Não sei descrevê-la, muito menos o quê significa, mas não há problema, pois a descrição ou o significado dessa sensação não são importantes. Importa a mim sentir novamente a ausência; entrar em contato com a instabilidade e o medo. A imagem eleita para representar a aproximação entre mim e essas instâncias é a de vagar pelo ermo. Há detalhes, mas não há necessidade de detalhes. Importa a todos perceber a dificuldade. O ermo é o isolamento, a inexistência de possibilidades. Mesmo assim, há esperança. O eterno apocalipse (culpa e inocência caminham lado a lado, de mãos dadas). A batalha final é travada a cada instante, em todos os lugares.

domingo, 11 de abril de 2010

Caminhada

Na medida de minhas limitações reconheço minhas deficiências.

sábado, 10 de abril de 2010

O humano e o natural

Sexta-feira passada (22/05/09) assistia à aula de direito penal, e o professor Leonir falava sobre a corrente naturalista, a qual entende a conduta em sua exterioridade, e considera tão somente a relação de causa e efeito ao analisar a ação humana. Sinceramente, me incomoda essa associação imediata que todos fazemos entre natural e exterior. Em um primeiro momento, até que soa sensato relacionarmos esse “naturalista” àquilo que é exterior ou apreendido pela causalidade. Com efeito, toda uma história das taxadas ciências naturais nos precede, e elas primam por observar a realidade exterior com o objetivo de postular leis. Todavia, não seria a subjetividade humana igualmente natural? Não seriam as construções humanas, tidas como artificiais, igualmente naturais?

Para mim, essa diferenciação entre natural e artificial, e entre ciências naturais e ciências humanas não faz sentido. Ainda naquela aula de sexta, o professor Leonir disse que os naturalistas desconsideram os valores na análise da conduta. Não seriam esses valores igualmente naturais? Afinal, o ser humano é produto de uma harmonia natural, e tudo aquilo que fazemos ou deixamos de fazer é fundado em um constante diálogo com a natureza. Da natureza viemos e para ela retornamos em cada momento, e não há como nos diferenciarmos dela.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Blog - O ponto de contato

Por meio deste Blog estabelece-se a comunicação entre o meu universo interior e o seu universo interior.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

As baratas


Estou na sala do meio, em minha casa, e a porta que dá para a sala da frente está fechada. É noite, e vejo uma barata transitar de uma sala à outra, por debaixo da porta. Piso na barata, ao passo que surgem outras. Mato uma a uma, enquanto surgem mais. Então, retiro o meu chinelo, e ajoelho em meio às baratas esmagadas para matar as que surgem. Enquanto mato as baratas, penso que a morte delas causará a morte dos filhotes. Aparecem baratas pequenas, médias e grandes, e eu mato todas elas. Não posso deixar que escapem, pois a sobrevivência delas causará a sobrevivência dos filhotes.